Nestes tempos de queda das taxas de juros no Brasil, muita gente está reclamando que esta ou aquela aplicação não está rendendo nada, que não sabe o que fazer para ganhar mais e perguntando, com aflição, aonde botar a grana economizada, ou herdada...
A grana economizada vem constituir um montante depois de um bom tempo de restrições no consumo imediato adiado para um consumo maior no futuro, enquanto que a grana herdada vem na moleza para o herdeiro, mas deve ter custado trabalho árduo para quem a gerou. E mesmo assim, a herança às vezes não chega, devido ao conhecido postulado: “Avô rico, filho nobre, neto pobre”, que preconiza que o avô, a primeira geração, constrói, o filho gasta e o neto, a terceira geração, destrói...
E o brasileiro tem que se acostumar às taxas de aplicação menores, pois, a caminho de um país melhor, as taxas têm que se aproximar daquelas do mundo desenvolvido que convive com taxas baixas o suficiente para fazer o playboy trabalhar e empreender a fim de ganhar mais.
Nesse contexto, como temos escrito aqui, para ganhar mais há que se empreender e correr riscos. Recomenda-se que só se entre em negócio que se conheça, para não dar com os burros n’ água. Já chega o país, que faz experimentos diários com neófitos ocupando politicamente ministérios, fazendo o povo nadar num mar de inexperiências e não voar por total incompetência.
Neste mesmo país que resiste às reformas, o que o INSS paga (sem poder) aos aposentados, em valores tão criticados (exceto os ganhos dos conhecidos marajás do abuso adquirido), efetivamente é um rendimento bastante atrativo.
Senão vejamos: o teto máximo bruto (R$ 2.801,82), se considerada uma taxa de aplicação em fundo de investimento na faixa de 0,8% ao mês, corresponde a uma aplicação de cerca R$ 350.000,00! Não é para qualquer um, não! É muita grana!
Se o valor da aposentadoria for no entorno de três salários mínimos atuais, valor isento de IR, para competir seria necessária uma aplicação de cerca de R$130.000,00, valor que, convenhamos, poucos brasileiros têm como poupança...
A conclusão é que o ganho ou o salário de quem trabalha vale muito, vale o que um montão de grana renderia de juros, de modo que todos devem valorizar a geração de renda pelo trabalho! Em vez de ficar reclamando da aposentadoria, direito líquido e certo de quem chegou lá, que se dê um jeito de continuar trabalhando, produzindo, que provavelmente vai-se ganhar muito mais além do “pé-na-cova”.
É bom lembrar que essas contas aproximadas, que esqueceram prazos de aplicação, imposto de renda, taxas de administração de fundos e outras mordidas mais, foram feitas com base nas maiores taxas de juros do mundo civilizado.Quando nós chegarmos lá perto dos desenvolvidos e o mundo esquecer o risco Brasil (que é o risco da mudança das regras do jogo!), o bicho vai pegar para os que vivem de renda fixa que vão ter que ter muita grana para sobreviverem sem trabalhar e sem consumir o principal, isto é, o capital inicial.
É verdade que com as amizades e reconciliações recentes no mundo da nossa política, muita gente já está com a pulga atrás da orelha: gato escaldado tem medo de água fria!
Com essas inacreditáveis composições políticas que o governo andou fazendo nesta época de fusões e aquisições, não se pode ter certeza de que não haja um saudosismo que leve a uma volta ao passado, com uma fusão do botox do ex-garotão com o mensalão plastificado.
E aí, uma fusão do risco do Brasil com uma elevação do badalado índice financeiro Risco Brasil vai exigir taxas de juros maiores, para êxtase de especuladores e banqueiros...
Luis Carlos Ewald